17 de fev. de 2011

Boa, Bill Clinton

Desde que fiquei sabendo das coisas que o Al Gore anda dizendo pelas Campus Party do mundo, fiquei intrigado com a relação entre internet e democracia. Comprei o livro do Evgeny Morozov, "The Net Delusion" e andei conversando sobre o assunto com amigos e familiares.

Eis que me deparo com Bill Clinton e sua defesa das instituições num congresso da Wired e da Fundação Ford, que aconteceu ontem. Indo na direção oposta aos dos "cyber-utópicos", para usar um termo de Morozov, o ex-presidente americano diz que a tecnologia "precisa estar a serviço da construção de instituições que funcionem". Nos países mais pobres e desestruturados, ela pode ajudar o seu fortalecimento; nos mais ricos, na regulação e controle maior dos processos.

Deu como exemplo a crise financeira de 2008, que aconteceu por um relaxamento nas regras de circulação da informação e prestação de contas das empresas financeiras. Ele não chegou a citar o Egito, mas deve ter falado com esse fato na cabeça. E por que é necessário repetir isso? Porque o consenso hoje é o de que a simples introdução de tecnologias de ponta e o modelo de circulação de informação da internet são  instrumentos revolucionários que fazem qualquer ditadura tremer nas bases. Não é verdade. No Irã, apesar dos protestos e de toda a comoção em 2009, o Movimento Verde nada pode fazer contra a perseguição que o governo lhe impôs depois que a poeira baixou. E como conseguiram identificar os responsáveis? Através dos milhares de vídeos, posts e perfis de Twitter disponíveis da internet.

Internet e smartphone não são iguais a liberdade. São iguais a produtos feitos por empresas voltadas ao lucro. O que é sinônimo de democracia são as instituições fortes que garantem os direitos fundamentais do cidadão e a transparência do governo. Para chegar até esse ponto é preciso muito mais do que banda larga e uma câmera embutida. É preciso esforço criativo e um espírito que esteja desejoso de uma cultura democrática.

ATUALIZAÇÃO: E não é que o Alec Duarte, colunista da Folha e dono do Webmanario concorda comigo? Leia o artigo dele sobre o Egito

*Com informações do Fast Company. Agradecimento a Tatiana Weiss

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