20 de dez. de 2012

Nova York em chamas


Uma boa parte da história da música pop dos últimos 40 anos tem a ver com Nova York. Rock artístico, rock proletário, punk, minimalismo, hip hop, disco e até a salsa tiveram na capital cultural dos EUA um lugar para crescer e se difundir pelo mundo. A lista de artistas que começaram ou se consagraram por lá é impressionante e serve como atestado da importância de Nova York: Patti Smith, Television, New York Dolls, Bruce Springsteen, Talking Heads, Blondie, Steve Reich, Philip Glass, Laurie Anderson, John Cale, Lou Reed, Grandmaster Flash, Nicky Siano, Wynton Marsalis, Anthony Braxton, Tito Puente, Rubén Blades, Celia Cruz e a lista nunca termina.

E o período entre 1973 e 1977 foi particularmente prolífico. Por isso o jornalista Will Hermes escreveu "Love Goes To Buildings On Fire" (título de uma música da banda de David Byrne), que saiu dia 8 de novembro nos EUA. Hermes não tenta explicar os motivos de tanta vida artística. Sem entrar no gênero do ensaio cultural, ele contextualiza de maneira detalhada o que estava acontecendo naquela época confusa.

Claro, ele fala dos casos de amor, das brigas, dá a data exata de shows - assim como o preço do ingresso e da cerveja -, conta os bastidores da gravação de discos e mapeia as ligações entre bandas, cantores e músicos. Porém, o retrato geral que ele faz da época que NY vivia é tão completo que o livro é indispensável para quem gosta de cultura e não só dos artistas citados no livro.

Hermes relata episódios importantes da política nova-iorquina e americana, resgata notícias sobre crimes e outros eventos relevantes que não estão diretamente ligados aos personagens principais, os músicos. Segundo o retrato que o jornalista pinta, a cidade não era tão distante da nossa São Paulo, violenta, sempre dando a sensação de que falta pouco para entrar em colapso devido à insegurança, a falta de serviços públicos, de empregos e opções de lazer.

De fato, Nova York quase foi à falência em 1975, e o então presidente Gerald Ford quase deixou a cidade na mão, ao recusar ajuda do governo federal. Eventualmente ele voltou atrás, mas ficou famosa a manchete do jornal New York Daily News repercutindo a decisão de Ford: "Ford to NY: Drop dead"(algo como, "Ford diz a NY: se vira").

Outra bola dentro do livro é assumir o envolvimento emocional do autor com seu objeto. Hermes era garoto quando tudo estava acontecendo e foi a vários dos shows, comprou discos, frequentou os bares por onde seus ídolos circulavam. Se o relato perde em objetividade, ganha ao ter a visão de um insider, alguém que morava em Nova York (no Queens, fora da ilha de Manhattan) e teve o privilégio de acompanhar o surgimento da cena.

"Love Goes To Buildings On Fire" agrada aos iniciados em história do rock pelas informações "históricas" da cidade e por juntar todas essas diferentes cenas na mesma narrativa. Para quem não conhece muito bem o assunto, o livro detalha a história de uma cidade que vivia uma tremenda crise social e política, mas, ao mesmo tempo, gerava frutos culturais que marcaram a história da música mundial.

Love Goes To Buildings On Fire
Will Hermes
US$ 9,94 na Amazon (ebook)

E aqui vai uma playlist só com um gostinho da música dessa Nova York em chamas:

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