6 de jul. de 2009

Medo de fazer perguntas


Os jornais brasileiros não analisam a crise grave pela qual está passando Honduras. Pouco adianta noticiar que houve um golpe e que o presidente deposto Zelaya está tentando voltar ao país com o apoio da OEA e, em menor grau, da ONU. Seria mais produtivo entender qual é o significado desse processo.

Para começar, houve de fato um golpe. A ordem legal foi quebrada ao se tomar a decisão de depor Zelaya. Em governos constitucionais presidencialistas o procedimento correto seria submeter o presidente ao impeachment. Formar um governo provisório com o apoio dos militares abre brechas para que se casse os direitos civis, o que de fato aconteceu em Honduras.

Raciocinou-se da seguinte maneira: Zelaya está indo contra todas as determinações legais, contra a Suprema Corte, contra o Parlamento, então o que deve ser feito é extirpar-lhe o poder. A idéia errada aí é a de que o regime é o presidente. Podre é quem governa, podre também é o modo de governar. Em países democráticos isso está errado. Um exemplo? Fernando Collor de Mello foi retirado do poder sem golpe, sem exército e sem maiores traumas para o sistema democrático brasileiro.

A sinuca de bico agora é o que diabos fazer. Parece impossível convencer os golpistas de que eles fizeram algo errado. Por outro lado, não se pode interferir nos problemas políticos de um país soberano. É necessário que haja a democracia, mas impô-la é algo essencialmente contraditório. Ainda mais se for de fora. Zelaya tem o direito de voltar não porque ele seja um exemplo de democrata (um "campeão da democracia", como diriam os americanos). Ele deve voltar para que o curso da legalidade seja reestabelecido - talvez até sofra impeachment logo em seguida.

Como resolver esse caso? Aceita-se o governo provisório e portanto o fracasso da via democrática ou viramos as costas para os golpistas e deixamos que Honduras queime em protestos? Já está claro que a população não está disposta engolir a derrubada de sua democracia, assim como posto está que o exército não vai brincar em serviço.

Não há respostas fáceis. O problema é que não estão sendo feitas as perguntas, pelo menos aqui no Brasil.

Para dar um exemplo de como acredito que a imprensa deveria agir, vejam essa entrevista (ao vivo) do embaixador de Honduras nos EUA para a CNN Internacional. Uma ótima pergunta, foi direto ao ponto. Reparem como ele não responde ao que foi perguntado. Pena que só tem esse trecho pequeno, porque a âncora colocou ele na parede depois disso:

2 comentários:

Brunna Paulussi disse...

Dirão pessoas que estavam nos bastidores, que o Brasil não foi para as mãos dos militares na ocasião do impeachment por muito pouco, um tiquinho assim! Mas o fato é que não foi. E Honduras está indo. Ótimo texto.

Georgia Nicolau disse...

saudades do meu cientista político preferido...
sábado tive aula na pós justamente sobre a era collor e como o país segui direitinho as regras democráticas e saiu ileso dessa.
muito legal seu texto, adorei q vc reativou o blog, tô precisando fazer isso tb
saudades digou