Radcliffe Roye/The New Yorker |
Começo por uma das últimas coisas que percebi. Sandy já havia causado muitos danos no Caribe, em Cuba, Haiti e outros quatro países. Sessenta e oito pessoas morreram e os danos materiais foram muito grandes também. A culpa está dividida aqui. Nem eu nem "a mídia" prestamos atenção ao que já vinha acontecendo. Porque nós não prestamos atenção a isso antes? Na última segunda-feira eu acompanhei tudo em tempo real e as notícias eram dadas a cada dez minutos, senão menos. Só fiquei sabendo dos números acima, os do Caribe, porque os pesquisei hoje. Essa foi uma constatação pesada. E velha, convenhamos.
Para falar de coisa boa, ficou claro que tipo de ferramenta on-line é mais desenvolta na hora em que vento sopra forte. Disparado, o Twitter foi a melhor fonte de informações durante aquela noite, apesar de várias mentiras que circularam. O governador de Nova Jersey e o prefeito de Nova York faziam atualizações a todo instante, tentando acalmar a população e informar. Quem seguia Bloomberg no Twitter, já sabia que o número de emergência 911 estava sobrecarregado e que deveria ligar para o 311. Imagino que quem estava em casa sem luz e com o smartphone à mão, ficar de olho nos tweets deve ter sido uma ótima maneira de ficar informado.
Checando o Twitter no meio do expediente. Pode, Max? |
Outro capítulo interessante e paralelo foi o uso do Instagram. Pela primeira vez, vi esse aplicativo sendo usado para algo que não documentar bichos de estimação, refeições ou finais de semana incríveis à beira-mar. Os filtros retrô passaram despercebidos. Amaro? Quem liga quando as imagens mostram ruas destruídas, alagadas e desoladas? Para compensar, o Facebook se mostrou lento e sem utilidade nas horas mais críticas. Deixei a rede do Mark de lado e fechei a aba.
Que conclusão se pode tirar disso? Não sei bem, mas o exercício de tentar juntar informações em um só lugar certamente deu muito mais sentido à experiência de assistir a (um lado) do furacão. Devido à própria natureza da imprensa (e da humanidade, eu diria), tudo é muito mais sensacionalista do que a realidade sugere. Nova York não estava completamente no escuro, nem totalmente embaixo d'água. Foram enormes os estragos e os perigos, sem dúvida, mas a tendência é sempre exagerar.
A internet foi vilã ou mocinha? Nenhum. Certamente foi ela um grande fator para que a passagem de Sandy por Nova York fosse melhor documentada do que a pelo Caribe, de países muito mais pobres e com pouco acesso a 3G e smartphones. Mas as câmaras de TV também não estavam lá. Não havia correspondentes brasileiros tuitando ou falando em tempo real do Haiti (que eu saiba). É nisso que devemos pensar. Não só pensar nos porquês de não cobrirmos tão bem notícias que estão muitas vezes mais próximas de nós geograficamente - quanto se ouve falar de Bolívia e Chile? - mas nos porquês de nos sentirmos mais próximos de Nova York do que de Santa Catarina.
Essa é uma pergunta que precisa ser respondida, por mim e por todos nós.
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