26 de abr. de 2012

Salvem os cabelos brancos do Nada Surf

Foto: Cine Jóia
A cabeça prateada de Matthew Caws carrega bem mais do que seus cabelos brancos. Com quase vinte anos de carreira, o Nada Surf que visitava o Brasil pela segunda vez era ainda melhor que o da primeira, em 2004. Mais discos, canções, integrantes na banda (um guitarrista e um tecladista foram incorporados), mais fios alvos e, especialmente, mais força no palco.

Cada vez mais longe do único hit verdadeiro, "Popular", que estourou nos EUA no começo dos anos 90, o Nada Surf está conquistando seu lugar no time de bandas extremamente competentes, quase indispensáveis de se ver ao vivo. Acostumados às limitações devido a uma carreira toda tocando em clubes pequenos e festivais do segundo escalão, driblaram bem os problemas de som e o falatório incessante no Cine Jóia.


Calejados, os nova-iorquinos mesclaram bem os antigos sucessos com os temas mais adultos do novo disco, "The Stars are Indifferent to Astronomy". Foram cinco canções do álbum. Todas funcionaram muito bem, apesar de serem visivelmente desconhecidas para o público.




"When I Was Young", do novo disco do Nada Surf

Foram especialmente cativantes no falso bis, quando puseram o público para dançar ao som da lenta "Inside of Love" e na última música do show, "Blankest Year", uma apoteose com palavrões em inglês gritados pelos presentes. Um domínio da situação que é típico de quem já viu de tudo e passou por otras tantas. 

Os problemas técnicos já mencionados não conseguiram esconder a bela voz aguda de Caws, que não falhou nenhuma vez. Em 2004 foi diferente. Com um penteado à la Luke Skywalker, o vocalista gastou suas fichas no meio do show e segurou o resto das canções com a ajuda dos backing vocals e de sua guitarra. Agora, com o apoio do teclado e de uma guitarra solo, não precisa mais gritar e consegue conduzir as melodias doces do Nada Surf sem grandes problemas.

A idade faz bem ao Nada Surf, uma banda que envelhece com rara dignidade no rock. Irônico é pensar que tudo começou com um sucesso adolescente, a tal da "Popular" de outra década. Salvem a cabeça prateada de Matthew Caws.