31 de ago. de 2010

Senhor Rockabilly


Johnny Burnette (1943-1964) já fazia um som pesado e sujo nos anos 50. De Memphis, no Tennessee, o cantor cunhou o termo rockabilly, que serviu para definir os primeiros rocks feitos nos Estados Unidos. Aliás, meu podcast dessa semana na Trip tem esse tipo de música como tema, escutem.

Como uma boa estrela de rock, ele morreu jovem aos 30 anos, afogado num acidente de barco. Quer dizer, nunca chegou a ser estrela, mas merecia. Essa música achei no blog Stupefaction:




Depois descobri que o Ringo Starr ajudou a tirar o Johnny Burnette do anonimato quando gravou "You're sixteen" em 1973:

Minha musa Lisa


Um homem precisa ter sempre sua musa e a minha da vez é a francesa Lisa Papineau. Nunca tinha ouvido falar da moça até vê-la sentada no chão tocando sintetizador durante uma sessão para a Sargent House. Paixão imediata. Descobri que ela já tem dois discos e poucos seguidores no Twitter apesar de ser uma estranha bela e cantar de um jeito cool que os hypes brasileiros iriam adorar.

Sendo sincero, não tem nada de mais na música que ela faz. Dá para achar umas quinze cantoras iguais em 15 minutos de Google e Myspace. O que me encantou mesmo foi a cena do vídeo para a Sargent House. Não vou incorporar o vídeo no post porque a música é meio chata, mas se você clicar AQUI, consegue ver.

Separei esse clipe do último disco dela, Red trees. Apaixone-se você também.

Angeli


O Fernando Luna ainda estava fazendo as últimas perguntas para o que seriam as Páginas Negras da Trip #191 quando chegamos na casa do Angeli. Logo depois de terminarem a entrevista, ainda havia horário marcado num estúdio de foto na Barra Funda e já eram seis da tarde. Havia pouco tempo e eu tinha que sair dali com seis respostas dele em vídeo.

Acontece que o Angeli é um cara gente fina. Recebeu a todos bem, mesmo depois de ter passado algumas horas sendo entrevistado. Quando li o resultado na revista tive uma ideia do quanto ele devia estar cansado. Mesmo assim, continuou numa boa, apesar da fama de mal-humorado e conversou com todos, fez piadas e até me deixou bastante constrangido:
- Eu já te conheço.
- Hm, não, acho que não.
- Já namorei alguém que se parece com você
- ...Bom, eu não fui... [constrangido]
- Não, era uma mulher, pô!
- Ah...Parecia comigo?
- É. Você tem alguma parente que era do circo?
- Não...

Foi logo depois deste momento embaraçoso e confuso e de algumas fotos que Angeli conversou conosco sentado em sua escrivaninha:

30 de ago. de 2010

Lenda do surf

Greg Noll autografa pôsteres em São Paulo (2010)

Ser jornalista significa escrever sobre muitos assuntos diferentes. Pelo menos para os iniciantes, como eu, e em um lugar como a Trip, que foca em pessoas e não assuntos. Já entrevistei juiz de MMA (o antigo vale-tudo), músico, artista, skatista, jornalista mestre de yoga, personal trainer, escritor, um bando de gente diferente. Até em matinê gay e campeonato de autorama eu fui.

Recentemente, eu e o Caio Ferretti conversamos com Greg Noll, o homem que é considerado o pioneiro das ondas grandes no mundo, respeitadíssimo por todos os surfistas. Já com seus 72 anos, Noll é um cara muito simpático. Fala gírias e palavrões como se tivesse 17 anos, minimiza seus feitos em ondas gigantes (dizem que ele surfou a maior da história, coisa que nega) e vende pranchas que custam até 10 mil dólares.

No vídeo, o Greg Noll apavora nas ondas gigantes de Pipeline (Havaí)


Tudo isso para dizer que um personagem do qual eu não esperava muito, para ser sincero, acabou se revelando um cara muito legal de entrevistar e de bater papo. Depois que já havíamos desligado o gravador, Greg, como ele pediu para ser chamado, ainda gastou uma boa meia de prosa conosco. Sem estresse, sem se preocupar com tempo, o frio ou qualquer outra coisa.

Esse é comecinho da entrevista, olha só que figura:

Quantos anos tinha quando pegou a primeira onda?
Tinha nove anos. Na praia de Manhattan, no sul da Califórnia, tinha uns caras da pesada surfando em tábuas.de redwood. Decidi que tinha de fazer aquilo. Perguntei para um desses se caras onde poderia conseguir uma prancha. Me venderam um por quinze dólares e eu passei o verão todo na praia. A prancha pesava 75 pounds, eu pesava 60. Bem, eu já sabia naquele primeiro verão que era aquilo que queria fazer da vida. Surfar, ir até à ilha [o Havaí], correr atrás das moças e me dar bem o máximo possível. Era para isso que ligava na vida. Lembro do diretor da escola me arrastando para sua sala. Naquela época, não havia nenhum garoto surfando no sul da Califórnia . [O diretor disse] "O que há de errado com vocês? Não ligam para nada além de surfar". Eu respondi: "É isso mesmo". Não sei como é aqui, mas lá você faz algum esporte, é um bom garoto, te dão uma carta de recomendação, as garotas gritam nas arquibancadas por causa dos jogadores de basquete. E tinha eu e o Bing Copeland e outros caras que não davam a mínima para isso. Eles não entendiam isso. Agora as escolas tem até equipe de surf.

Você aprendeu olhando?
Sim, é assim que se faz.


O resto você lê no site da Trip:
http://revistatrip.uol.com.br/revista/191/reportagens/big-big-rider.html

A música parou uma guerra


Nos anos 70, Nova York era uma zona violenta. Gangues brigavam por territórios nas periferias da cidade. Ou brigavam por brigar. É só lembrar do filme Warriors - Os guerreiros da noite. Estava ficando insportável viver na cidade até que uma coisa conseguiu acalmar os rapazes violentos: o hip-hop. Ao invés de brigar com paus, pedras e revólveres, os jovens iriam resolver tudo na base das batalhas de b-boys. Essa é a tese do documentário Rubble Kings (2010), do diretor Shan Nicholson.
 
Fiquei curioso com essa história. É um raciocínio perigoso à primeira vista, que corre o risco de dar importância demais a um tipo de manifestação cultural para justificar mudanças mais profundas. Vivem fazendo isso com o suposto "movimento hippie", como se ele tivesse um papel ativo e centralizado que tivesse levado a maioria da juventude a pensar da mesma maneira. O filme ainda nem estreou, então é difícil dizer. 

Não sei se chega aos cinemas daqui, mas sempre se pode conseguir o filme pelas vias "não tradicionais".



Sobre as eleições


Essa eu vi no blog do Ezra Klein, no site do Washington Post. Uma ponderação que vale para o Brasil também:

Campaigns are built to fool us into thinking that we're voting for individuals. We learn about the candidate's family, her job, her background -- even her dog. But we're primarily voting for parties. The parties have just learned we're more likely to vote for them if they disguise themselves as individuals. And American politics would work better if we understood that.
Mesmo com todas as teorias de personalização da política, do caráter plebiscitário das eleições, essa consideração ainda é verdade. O ideal seria que se reforçasse a representação, que ela fosse segmentada e distribuída por diferentes camadas da sociedade e das instituições políticas. Para saber mais sobre isso, recomendo o importante artigo da professora da Columbia University, a italiana Nadia Urbinati.

Ursinho deprê


Já que a onda de ursinhos está na moda (vide Ursinho Gente Fina, do Pânico na TV), vou apresentar o Misery Bear, o mais infeliz dos Teddies. Em português claro: ele só se fode. Estou tentando descobrir o quanto de Mr. Bean tem no personagem, porque as semelhanças são notáveis.

O canal de comédia da BBC parece ser uma fonte inesgotável de humor não tão engraçado, e foi lá que achei esse coitado de pêlos sintéticos. Uma definição melhor para o Misery Bear é: um episódio de Everybody hates Chris sem os diálogos e só com a parte no final em que o garoto se dá mal e passa vergonha.

Assista a Misery Bear indo para a Copa do Mundo e ria. Ou chore, tanto faz.

29 de ago. de 2010

Links da semana

Trnity College Library em Dublin, Irlanda

Vou começar a compilar os links legais que trombo no meu reader toda semana. A partir de... agora!

- Jah Wobble (ex-PIL) faz um remake de três minutos do clássico Blow-Up, de Michelangelo Antonioni

- Bez, o papagaio de pirata dos Happy Mondays, vai preso no Reino Unido

- Poema novo do Heitor Ferraz Mello

- Manifesto a favor do verso livre no blog do José Rodrigo Rodriguez

- Cartum do Laerte sobre um personagem que se chama Rui Barbosa

Bons e novos de guerra


Conheci o Good Old War ouvindo o programa World Café, da rádio americana WXPN. Violão, três vozes fazendo belas harmonias e esse saudosismo dos anos sessenta que parece nunca terminar. Mas o trio é dos bons: sabe fazer melodias e música para agradar qualquer um. Gostei tanto que dei como dica no ACP, no site da Trip.

Do segundo disco deles saiu a música do vídeo, "My own sinking ship", uma bonita balada sobre um amor desiludido. Essa sessão foi gravada ao vivo para o site do selo Sargent House, mantido pelo pessoal do Mars Volta.

Voz, violão, acordeão, três vozes em harmonia e amargura resignada. Dá quase um samba.

28 de ago. de 2010

Fuerza, Cerati


Desde maio deste ano, o cantor argentino Gustavo Cerati, 51, está em coma. Sofreu um derrame cerebral em Caracas (Venezuela) durante um show da turnê de seu quinto disco - chamado Fuerza natural - e ainda não dá sinais de consciência.

Estou torcendo para que Cerati se recupere e volte àtiva, apesar de sua grave situação. Vale a pena conhecer sua carreira solo de cinco álbuns e a extensa discografa de uma das maiores bandas latinas de rock, Soda Stereo, que o teve como líder.

No vídeo, o segundo clipe de Fuerza natural, o da faixa "Rapto". Aliás, uma das minhas favoritas do disco.

Humor azul

Para não dizer que é humor negro. Vi no canal de humor do site da BBC. Genial e cruel, tanto com os passarinhos, quanto com o amigo que tem dor-de-cotovelo.

"Blues"

20 de ago. de 2010

Foo Fighters pesado


Não sei quanto a vocês, mas às vezes dá vontade de ouvir música pesada e rápida para animar. Como não ando muito a fim de tão pesado nem tão rápido, escolhi sete músicas mais agressivas do Foo Fighters, uma banda que tem muito talento para fazer rock desse tipo. Já faz muito tempo que eles marcam presença no mainstream do rock, mas nunca fizeram um disco ruim. Claro que de vez em quando lançam uma baladinha, uma coisa puxada para o coxinha. Mas nada que comprometa a qualidade da música, pop até o cabelo, rock até o osso,

Aproveitem então para animar sua sexta-feira com essa seleção dedicada às músicas mais agressivas dentro do universo dos Foo Fighters. Aliás, será que vêm de novo no Rock In Rio?

19 de ago. de 2010

De noite na Alhambra fico sussurrando

É muito mais bonito ao vivo, acredite. E a foto é minha mesmo
 Acho o El País o melhor jornal do mundo. Não conheço todos, mas nunca vi capacidade de apuração e ótimos textos misturados tão bem em nenhum outro que tenha lido.

Dessa vez foi uma matéria sobre os passeios noturnos na Alhambra - palácio árabe na cidade de Granada - que me fez ter inveja dos espanhóis. Quando chega a primavera, os jardins do lugar ficam abertos para noites de flamenco e canções de Garcia Lorca.

Se aqueles jardins, chamados de Generalife, já são bonitos de dia, imagine durante à noite, com a iluminação especial que foi instalada. Melhor saber como foi na reportagem de Elsa Fernández-Santos. Clique no link para ler (em espanhol).

"Cascabeles en la Alhambra" - de Elsa Fernández-Santos

18 de ago. de 2010

Crônica em vídeo

O amigo e diretor audiovisual Rafael Câmara resolveu brincar num fim de semana e fez este belo vídeo de dois minutos sobre a cidade de Araçoiaba da Serra (SP). Uma parte de sua família mora lá e as memórias renderam uma pequena crônica sobre tios, primos, pais e cachorros. Especialmente os cachorros. Todo o vídeo foi feito a partir de fotos, seis mil segundo ele conta.

Araçoiaba from Rafael Câmara on Vimeo.

Para saber mais sobre o trabalho do Rafael visite seu blog-portfólio:
http://repertoriorafaelcamara.wordpress.com/

16 de ago. de 2010

Primeira playlist de agosto

Katy Perry nunca vai ter nenhuma chance
 Depois de muita luta no iPod saiu a lista das vencedoras da primeira parcial de agosto. MIA com sua "XXXO" (que tem um clipe sensacional), os hippies eletrônicos do Crystal Fighters, o ukulele indie dos Tune Yards (já falei delas aqui), os vindouros Pixies numa faixa que está no fim de Surfer Rosa, Aaron Neville com a épica "Hercules", o ídolo Muddy Waters dando um gás na vida (ainda um reflexo da caixa da gravadora Chess que baixei) e o patrono deste blog Frank Black pedindo desculpa à sua amada por todas as vezes que a chateou.

Éden

Kioskerman é argentino, quadrinista, ilustrador e meio poeta.
O blog dele é esse aqui: http://kioskerman.blogspot.com/

E essa é a série de tiras Éden, que já virou livro na Argentina. Clique AQUI  para ver maior.
Quer saber? Coloque ele no seu feed.


Você lê mais sobre ele e outros cartunistas argentinos e uruguaios (uma só uruguaia, na verdade), neste post que fiz no ACP, blog no site da Trip:
http://revistatrip.uol.com.br/blogs/acp/2010/08/13/quadrinhos-hermanos.html

14 de ago. de 2010

Meus enigmas, caro maestro

O professor de literatura disse que meus escritos são enigmáticos demais. Recebi textos corrigidos com anotações em vermelho dizendo "não entendi", "elíptico demais". Fui ter como ele, tentei explicar os motivos, mas os vermelhos não cessaram. Enigmas banhados em sangue.

Depois do almoço, fumando e pensando em digerir a berinjela chilena, perguntei aos meus textos o porquê de não quererem se revelar. "Do que têm medo?" "Escondem-se de algo?" O vermelho persistia ao lado do café servido em copo americano. Respostas se confundiam com o ruídoo de livros natimortos, canções incompletas , mulheres-memória pedindo outra chance. Continuava a pergunta:  "O que você quis dizer com isso?". "Pavões, mulheres nuas vivendo a tensão do toque, homens-cebola; do que se esconde?".

Não sei. Respirei fumaça alheia. Engoli o resto do copo e saí apressado, fugindo das respostas em agonia. Também não sei do que fujo, professor. O texto corre paralelo ao desdobrar dos dias, ao bocejar constante no escritório e de palavras que nunca serão minhas. De dia, o conceito, à noite a paixão extenuante. Acho que é isso.

De que são meus textos, professor?
Sintaxe, observações precisas? A engenharia do parágrafo não me diz respeito. Vivo entre gritos, suspenses inequívocos, noites alertas, onde inexiste texto, a não ser no claustro do dizer encomendado. Durante o dia, os nomes se impõem sem dúvidas em discussões unilaterais que deixam presas minhas mãos. A liberdade aterroriza à noite, cinco horas de possibilidades mortas num prato sujo de feijão. Não tenho, caro professor, como me explicar.

Resta fazer a súplica ao que explode nos poucos intervalos para o café. Compradas por quarenta horas semanais, as ideias não sabem ainda seu próprio nome nem são senhoras da substância. Tantos livros, professor, músicas, versos esquecidos, redenção e a cabeça repousada num colo quente. O enigma persiste pois tece o espírito que escorre entre os dedos. Há o homem mecânico, caro mestre, e há quem tente explodir de uma só vez.

O que resta, então, é morrer pelo ofício de transformar angústia em artesanato.

6 de ago. de 2010

Homenagem

"And by the way, if the revolution comes
please take my rifles, take my guns
you take my place because you are my son"

5 de ago. de 2010

O hospital no concreto

Estava úmido e fazia frio, como nos últimos dias. Olhando ao redor, o pátio aberto parecia um hospital de campanha, as luzes do poste refletidas na lâmina formada no chão. Com as costas no muro, eu tentava entender o que se passava. Olhei para baixo, percebi que estava sem o coração. Na mão direita, um caixa de gelo fechada. Assim fiquei por mais uns trinta segundos quando resolvi abrir a caixa vermelha para espiar o que havia dentro. Um pouco de gelo, um saco plástico com um volume escuro dentro. Ninguém me disse, mas era meu coração. Como tinha ido parar ali? Sabia, sem uma palavra ter sido dita, que eu estava prestes a morrer. Separado do coração, como um boneco. E segurando-o nas mãos, em seu caixão de gelo e plástico.

Pateticamente, comecei a fazer uma massagem, cardíaca no músculo extirpado. Sem saber o que aconteceria e o porquê de terem me arrancado o núcleo do peito. Não foi preciso insistir muito, senti um pulso na pele da mão. Agarrei o coração e vi que batia decidido. E agora? Algum médico tinha que me ajudar, eu poderia viver. Por que eu tinha de morrer sem nada no peito se o coração estava funcionando? Corri pelo concreto procurando alguém, mas só fazia mexer as portas de tecido das tendas. As enfermeiras só olhavam para mim e nada diziam. Perguntei por médicos, cirurgiões, doutores, sem resposta. Ao longe via que o prédio do hospital estava próximo e corri para lá.

Tudo deserto. Luzes acesas, salas abertas, mas os corredores não viam movimento. Precisava reparar aquilo, não podia morrer com um coração batendo nas mãos, mas ninguém queria me ajudar. Cadê os médicos, cardiologistas, cadê os filhos da puta que me fizeram esse rombo no peito? Quanto tempo será que havia? Fiquei desacordado durante muitas horas? Por qual motivo me largaram num muro, segurando o que foi extirpado de mim? Corria, corria, sentia um oco plástico dentro do peito, desespero: cadê os médicos?

E essa noite estranha, esse hospital com cara de tragédia, as camas espalhadas pelo chão, tendas azuis mal-armadas no estacionamento, e esse maldito prédio vazio? Quem me deixou aqui, de onde veio toda essa gente que sumiu? Ele ainda bate, chacoalhando o gelo, esticando o saco plástico. Corro para todos os lados, mudo de direção, não entendo o que acontece. Abro a caixa, tiro meu coração de dentro do plástico e o levanto para alto: alguém pode me ajudar, por favor?