7 de jan. de 2009

PAC x BBB

O UOL e o G1 fazem especiais para as eleições americanas, para as Olimpíadas e até para o BBB, mas para o Programa de Aceleração do Crescimento (um conjunto de medidas que vai durar até 2010), não há nada. As notícias mais antigas que explicavam o que era o PAC (de 2007) foram apagadas dos portais.

Sendo algo de longo prazo e com prestações de contas constantes, seria de se esperar que veículos jornalísticos ágeis e com capacidade de armazenar informações se preocupassem em deixar disponíveis os dados desse programa do governo para consulta e pesquisa.

Mas não. Seremos obrigados a consultar apenas os relatórios oficiais ou ficar sabendo que alguma coisa deu errado. Só assim para que se preocupem em acompanhar a atuação do governo. Está errado. Se nem nós, a minoria que tem acesso à internet tem isso à disposição, o que pensar do resto do país?

Ode à morte

Consigo pensar em muitas músicas sobre a morte (a maioria delas do Pixies), mas nenhuma tão forte como Gravedigger, de Dave Matthews (sem a banda). O além-túmulo não me interessa muito. Talvez por isso eu me identifique tanto com a frase "Gravedigger, when you dig my grave/could you make it shallow so that I can feel the rain".

Além disso, ele cita um Mr. Vertigo no final da música. Não sei quantos existiram nos Estados Unidos (trapezistas, ilusionistas, em geral, pessoas que criavam a ilusão de que podiam voar), devem ter sido muitos. Gosto de pensar que o Mr. Vertigo de Matthews é o mesmo de Paul Auster, o que realmente podia voar.

Dave Matthews - Gravedigger

6 de jan. de 2009

Um Stooge a menos

Morre Ron Asheton, guitarrista dos Stooges

Músico foi encontrado morto em casa nesta terça-feira (6).
Com estilo agressivo, banda influenciou movimento punk.

Do G1, em São Paulo

Link original AQUI.

Os Stooges em 2007. (Foto: Divulgação)

Ron Asheton, guitarrista da banda proto-punk norte-americana The Stooges foi encontrado morto na sua casa nesta terça-feira (6), em Ann Arbor, nos EUA, informa o site da revista inglesa “New Musical Express”.

A polícia local disse ter encontrado o corpo do guitarrista no sofá da casa onde morava. Uma patrulha foi mandada até lá depois que o assistente de Asheton entrou em contato com a polícia, explicando que não conseguia falar com o músico há dias.

Ao lado do irmão Scott Asheton (bateria), de Dave Alexander (baixo) e do vocalista Iggy Pop, Ron formou os Stooges no final da década de 60, em Ann Arbor, cidade na região metropolitana de Detroit, Michigan. Com seu som primitivo e agressivo, os Stooges foram considerados uma das maiores influências para o movimento punk surgido na década de 70.

Além dos Stooges, Asheton tocou em bandas como New Race e Destroy All Monsters. Em uma lista com os melhores guitarristas do mundo promovida pela revista “Rolling Stone” em 2003, Asheton figurou na 29ª posição. Em 2005 voltou com os Stooges, tocando inclusive no Brasil no mesmo ano. Em 2007, a banda lançou um novo álbum, “The weiderness”.

Hum... Não!

Pra quem tem que aprender a dizer não nessa vida.
Vá direto a 1:10.

Post dedicado a Dona Mara, de Porto Seguro.

Calma, eu sei o que estou fazendo.





The Blizzards
- Trust Me, I'm a Doctor

Perfil - Arnaldo Baptista

Texto originalmente publicado na Revista Espresso dos meses de setembro, outubro e novembro.

O ROCK POPULAR BRASILEIRO DE ARNALDO BAPTISTA


Considerado um dos principais músicos e compositores dos anos sessenta, o ex-tropicalista fala sobre Gilberto Gil, sua saída dos Mutantes e suas paixões, os amplificadores valvulados

TEXTO DIOGO RODRIGUEZ

Arnaldo Dias Baptista não é um herói do rock’n’roll. Apesar de, junto com os Mutantes e na onda da Tropicália, ter criado a semente de uma proposta de música brasileira diferente de tudo que vinha sendo feito até os anos sessenta, hoje em dia ele está longe de ter o status que têm bandas como os Rolling Stones, ou mesmo de outras personalidades consagradas da MPB. Enquanto os ingleses sexagenários ainda fazem turnês milionárias e são reconhecidos pelo mundo todo e Chico Buarque lota casas de espetáculo pelo País, o ex-tecladista de uma das maiores bandas de rock do Brasil não encontra facilidade para lançar os discos de sua carreira-solo: “Eu ainda tenho falta de acesso a esse lado [às gravadoras]”.

Ele é um dos que ajudaram a plantar a influência do rock no Brasil. Nascido em São Paulo, em 6 de julho de 1948, passou a infância e a adolescência no bairro da Pompéia. Teve contato com a música desde cedo, graças aos pais, César Dias Baptista e Clarisse Leite. “Em casa, nós [Arnaldo e seus irmãos Sérgio e Cláudio César] tínhamos um envolvimento musical muito importante. Minha mãe foi a primeira mulher do mundo a compor um concerto para piano e orquestra; meu pai era poeta:, escreveu três livros. O nosso envolvimento com a arte era totalmente mundial, mas não no sentido popular”, disse. Arnaldo conta que sua preferência por rock o fazia sentir-se “como um pária, porque ouvia conjuntos do exterior e não conseguia encontrar ninguém paralelo no Brasil”. Entre seus favoritos estavam The Ventures, The Shadows e o guitarrista Duane Eddy.

DUPRAT INCENTIVOU, OITICICA BATIZOU

Até chegarem à formação mais conhecida, com Arnaldo no baixo, Sérgio na guitarra, Rita Lee no vocal e Dinho na bateria, os Mutantes tiveram vários nomes e integrantes. Esses quatro seriam os que apresentariam a composição Domingo no Parque com Gilberto Gil no 3° Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967 – e seriam vaiados pela platéia porque empunhavam instrumentos elétricos, algo considerado inadequado pelas platéias conservadoras.

A responsabilidade por introduzir o quarteto paulistano à música brasileira de maneira decisiva foi do maestro Rogério Duprat, um dos idealizadores e principais colaboradores dos tropicalistas: “Nós fomos a um programa de rádio que ele tinha na época e conhecemos a Nana Caymmi. Acompanhamos a música Bom Dia e ela nos levou para conhecer o Gilberto Gil [autor da canção]”, conta Arnaldo. Encontraram-se no Hotel Danúbio, onde o baiano morava, e assim começava o ramo musical da Tropicália. O artista plástico Hélio Oiticica foi quem primeiro usou o termo; outros nomes mais famosos do movimento eram José Celso Martinez Corrêa no teatro e José Agrippino e Torquato Neto na literatura. Os tropicalistas tinham a intenção de misturar a cultura brasileira à cultura de massa do resto do mundo, principalmente das Américas.

A intenção de dar um caráter mais universal à música nacional que Caetano Veloso e Gil tinham em mente encontrou respaldo na vontade dos Mutantes de levar adiante o rock como música brasileira: “Quando eu fui ao hotel e encontrei o Gil com a Nana Caymmi e o Jorge Ben, meu lado nacional ficou mais forte, enveredei para isso e me apeguei às origens brasileiras. Me senti mais poderoso em deixar meu lado brasileiro aparecer”. Mais brasileiro, porém sem abandonar o rock: “Nós tínhamos instrumentos de rock, sem dúvida, e era um conjunto que sempre se baseou em guitarras. O sentido de rock’n’roll [da Tropicália] foi sempre nosso”.

O rock e a irreverência das letras e apresentações levaram os Mutantes ao estrelato no final dos anos sessenta. Além de participar do disco Tropicália (1968), fizeram desfiles de moda, campanhas publicitárias, programas de televisão e tocaram na Europa, na principal feira do mercado fonográfico mundial, a Midem. Porém, nada parecido com o que outras estrelas da época experimentavam. “De uma certa forma sempre fomos deixados de lado porque éramos muito diferentes do Roberto Carlos e da Wanderléa.” E qual teria sido o impacto de um conjunto de rock na música brasileira? “Os Mutantes tentavam abranger o que não era conseguido, ou seja, enquanto havia conjuntos que imitavam os lá de fora, nós entramos na pesquisa da música brasileira.”

Depois do frisson inicial e do sucesso conseguido por canções como Ando Meio Desligado, os Mutantes encontravam cada vez mais dificuldades para se manter populares. Problemas internos como insatisfações, brigas e desentendimentos causaram a saída de integrantes ao longo dos anos. Primeiro foi Rita Lee, depois Arnaldo Baptista. Segundo ele, começavam a aparecer diferenças artísticas entre ele, o irmão, Sérgio Dias, e o resto do grupo. Em 1973 deixou a banda; no ano seguinte lançou seu primeiro disco-solo, Lóki?. O irmão mais velho, Cláudio César, construía equipamentos para serem usados em shows e gravações. “O meu irmão fazia amplificadores digitais e eu prefiro valvulado, foi por isso que eu acabei saindo dos Mutantes.” Os mesmos motivos o levaram a sair mais uma vez, após a reunião em 2006, desta vez com Sérgio Dias, Dinho Leme e Zélia Duncan.

O EQUIPAMENTO MAIS-QUE-NECESSÁRIO

A questão dos amplificadores valvulados está fortemente presente na conversa com Arnaldo. Sua absoluta predileção por esse tipo de equipamento é algo que ele sempre faz questão de frisar. Quando perguntado do porquê disso ele conta uma história “muito íntima” e “nunca publicada”. Um ou dois anos antes do término dos Mutantes, quando visitava Armando Salles em São Paulo, “audiófilo” e amigo de seu pai, ouviu um som “totalmente maravilhoso, psicodélico”, que o “preencheu”. Quando perguntou a Salles o que era aquilo, a resposta: “É que o amplificador aqui em casa é valvulado.”

Foram seis discos com os Mutantes e outros seis em carreira-solo. Arnaldo tem procurado manter-se fiel ao tipo de som que admira, de “músicos como o Tony Kaye, pianista do grupo Yes, o Nigel Olsson, baterista do Elton John, o Jack Bruce, contrabaixista do West, Bruce and Laing, o Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin”, que ele “endeusa”. O esforço agora é conseguir equipar seu estúdio caseiro em Juiz de Fora (MG). “Em São Paulo eu tenho um apartamento. Era um pouco difícil porque tenho um amplificador de 40 watts. Aumentava o volume um pouquinho e o zelador já berrava pelo interfone: ‘Tá muito alto!’. Vou fazer o som de acordo com o que eu sonho, que é totalmente valvulado e com instrumentos Gibson. Então, eu tenho bateria Ludwig, tenho três teclados em casa... Eu vou deixar transparecer a diferença que existe entre o rock’n’roll bom e rock’n’roll ruim.”

Com duas músicas do próximo disco já gravadas, Arnaldo Baptista tem esperanças de conseguir fazer música exatamente do seu jeito. Neste ano, estreou na literatura com a ficção-científica Rebelde entre os Rebeldes (Editora Rocco), em que convida o leitor para uma viagem espacial: “Aventuras interplanetárias de um casal que foge da Terra e vaga pelo tempo e pelo espaço em busca de paz”. E avisa: “Vou levar adiante a minha carreira-solo, porque agora vai ser como eu quero.” Além de gravar todos os instrumentos (como já havia feito em Let It Bed, de 2005), Arnaldo está executando toda a parte técnica sozinho: “Encontrei dois gravadores profissionais nos Estados Unidos que aperto um botão e sai deles um CD pronto para ser tocado. Então eu já passei a ser independente”. Uma independência merecida, ainda que tenha demorado a chegar.